Saturação de Conteúdo x Economia de Atenção: Quando a consistência na comunicação de marca vira uma exceção em nome da irrelevância da hora. (E o que isso tem a ver com a música?)
Comecemos pelo básico: Com a quantidade e multiplicidade absurda de conteúdo publicada a cada minuto na web, as pessoas estão obviamente cada vez mais conectadas, always-on. Isso ainda se torna mais evidente junto ao público mais jovem, com um consumo de informação brutal, constante e fulltime nas telas de seus celulares. E o que fazer para se destacar em meio a essa saturação de conteúdo e tanta disputa por atenção?
Consistência é o elemento-chave na construção de valor para as marcas
Em um primeiro momento, pode até parecer que conteúdos rápidos e de fácil entendimento possuem maior vantagem de assimilação diante de taaaaantas informações. Essa possibilidade está representada em vídeos, histórias, mensagens – e até músicas – cada vez mais curtas.
Vídeos de 5 minutos? Insuportável.
Faixas longas? Nem pensar.
Textos robustos? Tô fora.
No instante em que se apresenta esse novo padrão, com um público que parece não apreciar nada que não possa ser assimilado rapidamente, surge um fenômeno chamado economia de atenção, com a tentativa de “entender” tudo ao mesmo tempo agora.
Na música está assim. Há um desespero pelo skip. Ouve-se somente a música na sua essência, buscando capturar o básico o mais rapidamente possível e…voilá!… tecla-se o skip e vamos lá passar para a próxima faixa.
Mas, olhem que divertida essa contradição: E a explosão do vinil nesse cenário?
Ouvir um disco de vinil traz consigo todo um ritual de reverência, desde o momento de retirá-lo da capa, limpá-lo, preparar a vitrola, depositar com cuidado o LP, posicionar a agulha e, depois de ouvir o chiadinho básico, só aí entrar na vibe do artista.
Quem aprecia o uso, defende que o vinil tem um som distinto se comparado ao CD ou outras mídias, com sons e instrumentos que acabam suprimidos em outros formatos. Mas isso fica pra outro momento…
Desde 1986, conforme pesquisa da Recording Industry Association of America (RIAA), a venda de LPs não superava a de CDs. E isso ocorreu em 2020. Só nos Estados Unidos no ano passado foram mais de 60 milhões de LPs vendidos. E em 2023, aposta-se num crescimento maior, ainda.
A febre do vinil parece não ser apenas de forma, mas um revival de conteúdo relevante
Uma matéria assinada pelo jornalista especializado Ted Gioia, publicado no portal The Atlantic, aponta que músicas ditas clássicas do rock, mais maduras, mais bem produzida, tocada por verdadeiros virtuoses, representam hoje 70% do mercado comercial americano. Ou seja: Led Zeppelin, The Who, Tom Petty, Elvis, Mettalica, Pink Floyd, Beatles & Stones, todos hoje em dia representam 70%(!) do mercado musical dos Estados Unidos.
A lista atual de downloads do iTunes, segundo ele, traz ainda como destaques bandas como Creedence Clearwater Revival e The Police.
Enquanto isso, os novos artistas, aqueles com suas primeiras músicas lançadas nos últimos 18 meses, representam somente 5% dos downloads na lista dos top 200.
Seria porque a música de agora é obra de softwares e samplers?
Seria porque tudo hoje soa parecido, com batidas eletrônicas substituindo as grandes linhas melódicas tão características dos velhos tempos?
Eis que tudo se torna muito igual, tudo muito volátil, tudo muito rápido e, muitas vezes, tudo muito irrelevante, onde uma playlist de 2 horas pode ser ouvida ao longo do dia sem que a pessoa seja capaz de uma identificação mínima de quem tocou o quê.
O que esse papo todo tem a ver com o posicionamento atual das marcas?
Assim como na música, o fenômeno da pasteurização volátil também gera irrelevância no marketing.
A comunicação de hoje parece uma luta insana da forma tentando superar o conteúdo.
As Redes Sociais convenceram alguns incautos que a comunicação consistente de outrora, aquela que continha ideias criativas, relevantes, produções incríveis, poderia ser substituída por posts insossos, pasteurizados, sampleados. E a custos “milagrosamente” próximos de zero.
E aí instala-se a corrida em que todo mundo pensa mais nos formatos do momento, nos memes da hora, tudo acompanhando a rapidez do novo mundo, mas, em muitos casos, sem gerar qualquer valor, relevância e diferenciação para as marcas e, mais contundentemente, sem oferecer qualquer resolução de problemas na vida do consumidor.
É a dancinha tentando bater o storytelling.
É o post comemorando o dia da bisavó substituindo o posicionamento.
É a fotinho, tentando superar a estética que representa a ética.
É o banco de imagens tentando substituir a verdade.
O que você quer para seu negócio?
Para quem quer exercer uma comunicação orientada para resultados, destacamos a necessidade do exercício diário e consistente no sentido das marcas apresentarem argumentos sólidos – racionais e emocionais – para como ela pode impactar positivamente na vida das pessoas.
Sugestão: Olhe seu feed e veja se você reconhece seus valores empresariais lá representados.
Entenda se sua proposta competitiva está bem explicitada.
Verifique se os esforços – usualmente primários – que poluem as redes de irrelevância por acaso também estão sendo exercidos pelo seu marketing.
Caso isso seja percebido por você, fuja das soluções médias, medianas, medíocres.
Relembre que o princípio fundamental do marketing é que ninguém deseja aquilo que não conhece e não admira.
Que o foco verdadeiro de comunicação de marca é valor & diferenciação. E isso não se faz com irrelevâncias voláteis.
Mude. Mude agora. Mude antes que sua marca seja mais uma desconhecida numa “choicelist” do consumidor.
Luciano Vignoli é publicitário, presidente da agência e21 e defensor da ideia de que marcas fortes são o último diferencial competitivo do mundo atual.